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Centro de Excelência em Primeira Infância: Ruas adotadas, territórios abraçados

Ruas adotadas são a (re)construção da ideia de que rua é lugar para criança brincar. Um movimento solidário ressignifica a rua como lugar de encontro, convivência e transformação, com intervenções artísticas, culturais e sociopolíticas. Moradores e serviços são identificados como “pontos luminosos” e contribuem com o desenvolvimento de atividades para cuidar da primeira infância com excelência, com a ideia de adotar a rua para ela adotar as crianças e suas famílias.

Resumo do Projeto

O CEPI surgiu em 2017, composto por 14 mães mobilizadoras, moradoras em 6 bairros onde atuam, no distrito de Parelheiros, extremo sul de São Paulo O grupo mobiliza a comunidade para o cuidado com crianças desde a gestação.

A formação e supervisão desse coletivo é feita por duas organizações da sociedade civil parceiras, IBEAC e CPCD, que contribuem no conhecimento do desenvolvimento infantil, acompanhamento da família e construção de estratégias que empoderam as mulheres/mães. Cuidam do presente e do futuro da primeira infância, das famílias e comunidades, com o objetivo de tornar Parelheiros o melhor lugar para nascer e viver.

Para garantia da excelência, o coletivo realiza visitas às casas, oficinas de autocuidado e cuidado com os bebês, desenvolve tecnologias sociais para incentivar e acompanhar o desenvolvimento e crescimento das crianças.

Nessa perspectiva, foi criada a Rua Adotada, uma tecnologia social criada para ressignificar os espaços da rua, juntar as pessoas, resgatar o contato da criança com pais, avós, vizinhos, fazer intervenções no espaço físico, embelezando as ruas, criando percursos lúdicos e criando espaços de diálogos com o território. A Rua Adotada promove o acolhimento das crianças e suas famílias por meio de brincadeiras, plantio de mudas na rua e nos quintais, pinturas com tinta de terra nos muros, contação de histórias, música, teatro, dança, cinema e literatura, ampliando os espaços de aprendizagem com a participação ativa da comunidade, com todas e todos se mobilizando para o cuidado consigo, com os outros e com as ruas, se apropriando dos espaços. Até o momento foram adotadas 12 ruas, transformadas em espaços lúdicos e de aprendizagem comunitária. Em 2022, mais de três mil pessoas participaram das atividades.

As ruas são escolhidas estrategicamente pelo Coletivo Mães Mobilizadoras, onde moram várias crianças, seja próximo a equipamentos públicos, tenha boa circulação e visibilidade. São levantadas possibilidades de intervenções e atividades, antes do contato com moradores, para envolvê-los nessa construção, o que é feito em visitas nas casas da rua escolhida. As primeiras convocações são pelo cuidado das crianças, pelo embelezamento das casas e da rua, pelas trocas intergeracionais de saberes e fazeres. Todos os moradores são ouvidos sobre seus desejos, que se transformam no mapa dos sonhos, a curto, médio e longo prazo, onde aparecem onde serão os jardins e hortas, os brinquedos, espaços de leitura, os muros pintados com tinta de terra. O mapa recebe cores, imagens, palavras e são escolhidos os moradores responsáveis em incentivar as ações e serem os guardiões da rua.

No dia da adoção, moradores e parceiros são mobilizados: escolas, creches, associações locais, de 50 a 200 participantes. Nesse dia, muros, calçadas e a rua são pintados com tinta de terra. A estética da rua muda com desenhos de jogos e percursos lúdicos. Livros são espalhados pelo chão, algibeiras de livros são penduradas nos muros, cantinhos aconchegantes são criados e histórias são contadas. Flores e mudas de árvores são plantadas. Brincadeiras, cantigas, jogos com bola, corda, confecção de brinquedos. A comunidade se inspira a participar das atividades, para embelezar suas casas, brincar com as crianças, conversar com os vizinhos. O clima de alegria e ludicidade toma conta.

A partir desse dia, a Rua Adotada adquire novo significado e potencialidades, transformada em espaço público de convivências, trocas intergeracionais, afetos e aprendizagens, atividades culturais organizadas para que todos participem. Escolas e creches trazem seus alunos para vivências ao ar livre. São apresentadas peças teatrais e sessões de cinema. Duplas de Mães Mobilizadoras organizam uma agenda quinzenal de atividades com os moradores e outros grupos da comunidade. Oficinas comunitárias são agendadas nas casas e na rua, que se torna mais segura.

Sistematização do processo na implantação e consolidação da Rua Adotada:

- identificação de pontos luminosos

- resgate das tradições culturais por meio de brincadeiras e cantigas

- construção criativa de brinquedos, jogos e histórias

- pedagogia da roda para que todos sejam ouvidos e incluídos

- literatura e arte como caminho de conexão — mediação de leitura, resgate das histórias de tradição oral, músicas, teatro, cinema, dança

- repertórios com permacultura, oficinas para públicos diversos envolvendo crianças, jovens, adultos e idosos.

As Ruas Adotadas convidam para o acolhimento, convivência, aprendizagens, oportunidades, afetividade, olho no olho, interação. Têm contribuído para fortalecer parcerias locais com os serviços públicos, que se inspiram e participam de atividades conjuntas. Essa parceria é muito valorizada por estes serviços que relatam impactos dessa ação nas comunidades. Como um dos resultados obtidos por esta ação no território, foi a junção do Coletivo com pessoas da comunidade e parceiros na construção de um livro.

Equipe Técnica

  • Flávia C. Kolchraiber
  • Valdirene Rocha
  • Laniela Feitosa
  • Vera Lion

Galeria do Projeto

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Galeria Comparativa