Entrar

Manifesto #MeuBairroExiste: Comunicação visual ativista, cartazes e carta da cidadania infantil pelo direito de brincar

Aqui apresentamos dois dispositivos cocriados com crianças para a comunicação visual ativista e seus respectivos protótipos. Os dispositivos foram desenvolvidos a partir de uma experiência com crianças de bairros marginais da cidade de São Luís, Maranhão/Brasil. São eles: uma série de cartazes que reivindicam ideias ligadas ao brincar em meio urbano e a Carta da cidadania infantil pelo direito de brincar. Estes dispositivos foram utilizados como recurso para ativar a participação de crianças.

Resumo do Projeto

Quando as crianças brincam

E eu as oiço brincar,

Qualquer coisa em minha alma

Começa a se alegrar

Fernando Pessoa



No Brasil, país marcado por expressivas diferenças relacionadas a fatores de classe e raciais, as desigualdades e formas de exclusão também são observadas em espaços e equipamentos públicos lúdicos dedicados às infâncias nas cidades. Em São Luís, Maranhão, estes espaços, em boas condições de uso, com equipamento lúdico estético e funcionalmente diferenciado, concentram-se em áreas nobres e de difícil acesso as populações dos bairros marginalizados (onde nestes, em alguns casos equipamentos de lazer sequer existem), criando barreiras que traduzem formas de segregação espacial e exclusão social.

Aqui apresentamos dois dispositivos de comunicação visual ativista e seus respectivos protótipos - desenvolvidos a partir de uma experiência cocriada com crianças de bairros marginalizados da cidade de São Luís, Maranhão/Brasil. Estes mecanismos foram utilizados como recurso para ativar a participação de crianças e a sua cidadania na reflexão sobre os espaços de brincadeira dos locais onde vivem. Experienciados por meio da cocriação de peças de comunicação visual, cumprem também um papel como instrumentos de sensibilização - do poder público e da população - sobre os direitos das crianças das margens urbanas a espaços e equipamentos lúdicos. A ação toca no direito das crianças à cidade e, mais especificamente, no direito de brincar na cidade.

Segundo o ECA ( Lei 8.069 no dia 13 de julho de 1990), os municípios, estados e união devem destinar recursos e espaços para atividades de lazer infantis. A experiência aqui apresentada também se baseia nos artigos 12 e 31 da Convenção das Nações Unidas – que reza que as crianças têm direito de exprimirem sua opinião sobre questões a elas pertinentes e também o direito ao acesso a atividades lúdicas.

Os protótipos partiram de uma experiência real realizada com 36 crianças de 4 a 14 anos, em duas comunidades da cidade de São Luís/MA: o Bairro da Liberdade e a Vila Maresia, iniciada em janeiro de 2022. A experiência de codesign foi realizada no âmbito da pesquisa de doutorado intitulada “Design participativo nas margens: democracia e direito de brincar pelas infâncias na ilha de Upaon-Açu, Maranhão, Brasil” (Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa).

Métodos experienciados e dispositivos desenvolvidos:



1. Cartazes para lambe

O lambe-lambe, expressão urbana de arte, design, cultura e política, remonta o advento da imprensa, período em que a técnica de colagem de cartazes nos muros era utilizada como meio de divulgação facilmente reprodutível e barato. Depois disso, no período pós segunda guerra, a técnica foi adotada como instrumento de protesto, o que permanece até os dias atuais.

Nesta experiência, os cartazes foram criados a partir das fotografias realizadas pelas crianças e pesquisadora e também das percepções das crianças, traduzidas, junto com elas, em frases de efeito. As fotografias e as percepções das crianças foram apreendidas por meio do método do photovoice (fotografia participativa).



2. Carta da cidadania infantil pelo direito de brincar

Inspirada na experiência da “Carta da cidadania infantojuvenil do concelho de Guimarães”, Portugal (SARMENTO et al, 2016), construímos, com as crianças, uma carta com reivindicações relacionadas aos espaços de brincadeira dos locais onde vivem. Uma versão da carta foi entregue à prefeitura da cidade de Raposa/Ma. Depois de uma visita pelo bairro guiada pelas crianças, a carta foi produzida coletivamente, durante uma oficina de imaginação de futuros. Na carta, ilustrada com os desenhos das crianças, há destaque para as frases ditas por elas, que refletem suas necessidades e anseios.

Os projetos piloto desenvolvidos originaram protótipos que podem tomar outras configurações de acordo com os sujeitos e as realidades de cada lugar, servindo como elementos de inspiração para outras experiências.

Como atividades futuras, intencionamos replicar a experiência em outros bairros marginalizados da cidade, para que mais crianças possam vivenciar o protagonismo fomentado pela ação e para que mais vozes possam ser ouvidas.

Ficha Técnica

Título: Manifesto #MeuBairroExiste: Comunicação visual ativista, cartazes e Carta da cidadania infantil pelo direito de brincar.
Designer e pesquisadora: Camila Andrade Dos Santos (Departamento acadêmico de Design do Instituto Federal do Maranhão/Centro de investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa).
Projetos desenvolvidos no âmbito da pesquisa de doutorado “Design participativo nas margens: democracia e direito de brincar pelas infâncias na ilha de Upaon-Açu, Maranhão, Brasil”.
Orientadoras: Rita Almendra (REDES/CIAUD/FA-ULisboa); Inês Veiga (REDES DESIS LAB/CIAUD/FA-ULisboa); Raquel Noronha (NIDA/UFMA).
Entidades parceiras: Associação dos Remanescentes Quilombola Urbano do Bairro da Liberdade e Associação Comunitária Três Marias.
Colaboradoras nas comunidades: Eliane Moreira (Liberdade); Maria da Glória Brasil (Raposa).
Projeto desenvolvido em conjunto com as crianças dos bairros das Liberdade/São Luís/MA e Vila Maresia/Raposa/MA.

Equipe Técnica

Galeria do Projeto

' ' '